Crônicas de Nosso Tempo - dedicado à “Crítica Roedora dos Ratos”
Este é tempo de partido, tempo de homens partidos. Em vão percorremos volumes, viajamos e nos colorimos. A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua. Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem (...) O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas promete ajudar a destruí-lo como uma pedreira, uma floresta, um verme. ( "Nosso Tempo" - Drummond)
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Jornal dos Lagos , Alfenas e Eu pelo Mundo
“Mineiro sai de Minas. Mas Minas não sai da gente”. Faz dez anos que saí para São Paulo. Lá senti e fizeram-me sentir mais mineiro. De tempos em tempos preciso de uns dias em Minas, em Alfenas. Se não o mundo torna-se, a mim, intolerante, e eu a ele. Não é só voltar para cidade natal. É voltar para a Home Squared (Lar ao Quadrado), – expressão usada no Quênia (segundo relato de Barack Obama quando visitou a terra de sua família paterna), que diz respeito à casa no interior, o lugar de onde vem nossa família, ao nosso lar ancestral.
Uma vez, meu pai observou que mesmo eu ficando meses longe de Alfenas, voltando, estava mais informado sobre a cidade do que ele, leitor sagrado de jornais. Porém eu me fiz leitor compulsivo e gostaria aqui de prestar minha homenagem à este Jornal dos Lagos por manter por quase dez anos, sua página na internet. Sabemos do esforço que manter um jornal significa. Mais ainda mantê-lo na Internet com acesso livre. Poucas cidades do porte de Alfenas tem este privilégio e possibilitam aos filhos da cidade que caem no mundo o encontro com ela em qualquer lugar e a qualquer hora ao seu redor.
Angustio-me quando as notícias demoram para serem atualizadas em relação à data da edição impressa. Surpreendi-me, com grande prazer, quando vi piscando um link escrito “últimas notícias’.
Graças a isso, não perco o bonde da história de minha cidade passando enquanto não estou nele. Também não preciso mais pedir para meus pais e irmãs guardarem edições antigas por meses ou enviá-las pelo correio .
Parabéns a todos os profissionais envolvidos em todo este trabalho de reportagem, pauta, edição, pesquisa, e pela atualização com grande qualidade visual, superior a muitos sites de jornais com abrangência nacional, da sua versão On-Line. Graças a vocês este desgarrado da terra permanece ligado à ela. Esteja onde estiver, estarei um pouco em Alfenas e ela, comigo.
Texto publicado em: http://www.jornaldoslagos.com.br/jlagos/dat/doc/suce.pdf
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Obama: O Herói do Século XXI?
Quando Obama se elegeu o homem mais poderoso do mundo fui atrás de ler sua autobiografia a fim de descobrir ou ao menos conseguir pistas de sua trajetória pessoal que explicassem os caminhos pelo qual chegou à presidência de forma tão meteórica. Entre as várias experiências e aventuras, chama a atenção seus pais terem se conhecido no Hawaí. Fosse em algum ponto do Velho Oeste americano, poucos anos antes, poderiam seus pais, mãe “branca como leite”, e pai queniano, terem sido enforcados, queimados, e fotografados para estamparem postais.
Mesmo depois de ler seu livro “A origem dos meus sonhos”, não é fácil apreender como seus “sonhos” o levaram tão longe – a não ser o fato dele ter se tornado um homem de trajetória e valores cosmopolitas enquanto o mundo e seus donos se mexiam para ficar no mesmo lugar.
Normalmente as lideranças políticas têm uma mesma trajetória até o poder: ou pertencem à famílias tradicionais de políticos (como o governador de Minas, Aécio Neves), ou foram líderes sindicais / estudantis (Lula, José Serra), ou ainda pertencem à famílias “tradicionais” (diga-se ricos e oligárquicos) que sustentam seu poder político através do poder econômico numa comunidade pobre (Sarney). Por fim, hás os ditadores: Hitler, Stálin, Médice. Mas nenhum deles se sustentaria no poder não fossem seus atributos de homens públicos, mesmo os mais sanguinários, pois afinal, tem apoio de uma parte importante da sociedade.
Mas e Obama? Lá em meados dos anos 80 ele trabalhava numa ONG organizando comunidades de bairros pobres na periferia de Chicago. Com apenas um assistente, um carro velho, e um modestíssimo salário; batendo de porta em porta, convocando pais e mães de alunos de escolas do bairro para se reunirem a fim de pressionar o poder público para melhorar a estrutura física das escolas, ou o departamento de infra-estrutura da prefeitura para trocar o encanamento com canos de amianto (cancerígenos) dos prédios mais antigos.
Hoje, por mais que diga em diversas entrevistas que gostaria de ter um problema por vez, ele precisa lidar ao mesmo tempo com as ameaças nucleares de um delinqüente norte-coreano, duas guerras, evitar o colapso do capitalismo norte-americano, o aquecimento global , além de evitar pegar um resfriado – já que um espirro seu pode criar uma pneumonia em meio mundo.
Mas ele não abre mão de tempo para as duas filhas, brinca com o cachorro e ainda mobiliza a CIA e o FBI para levar sua esposa, Michele, a um jantar romântico em Nova York e depois a um show na Broadway.
E não enganem: mesmo com todo o seus charme ele não é do tipo que não faz mal a uma mosca.
...E enquanto isso, no Brasil, temos que ver a m... que virou a política brasileira. Sempre fui pelo PT, mas daí é muita palhaçada pra ficar no poder. A seguir coluna de Eliane Cantanhede: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/elianecantanhede/ult681u592118.shtml
DESABAFO: Educação para a Barbárie "Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura se é verdade..."
o horror era na travessia dos navios que traziam escravizados da África para o Brasil. Hoje, esta frase me vem constantemente à mente quando estou dentro da Escola. Tentando administrar conflitos, ou quando converso com colegas de faculdade que também tornaram-se professores e estão, como eu, submetidos a uma série de frustações, violência, humilhações, conflitos de uma sociedade corrompida como a nossa , encarnados na Escola, no dia a dia da Escola, diga-se bem.
Bem, é um exagero comparar a crise na Educação Brasileira com o horror dos Navios Negreiros de Castro Alves. Mas acho que é hora de exagerarmos mesmo. Sermos radicais, irmos a raíz. A história do Brasil, de boa parte dele, de quase quatrocentos anos dele, se fez através desses navios. Somos esta história. A escola que eu vejo não é uma ponte para a evolução. A verdadeira escola que vejo, que trabalho, que estudo, é uma Instituição que exclui, discrimina, ignora. O que pode ser pior numa sociedade do que uma Instituição que deveria ser o locus, por excelência, da superação e da evolução de uma sociedade. O local ideal para e equalização das desigualdades economicas, sociais e históricas. Mas que, ao invés disso, se transforma numa das esferas mais violentas, e locus privilegiado de exclusão e manuntenção e reprodução de nosso país nascido sobre tanto "horror perante o céu"?
Quem sabe assim chamaremos a atenção para o absurdo da Educação básica nacional para o Absurdo das condições de trabalho do professor, que estamos todos ficando doentes. As vezes, quando saio de algumas aulas, fico imaginando se há alguma trabalho pior do que esse. Trabalho, diga-se bem, não luta pela sobrevivência, como milhares de brasileiros tem que fazer dia e noite para sobreviver e manter a dignidade para não ir para o crime (talvez até com razão...).
Senão, que tipo de trabalho, um único indivíduo, com diploma universitário, tem que entrar numa sala, com trinta, quarenta ou cinquenta outros individuos totalmente diferentes, mas se relacionando coletivamente. Ensinar a todos, ao mesmo tempo, o mesmo conteúdo. Que sabemos, não tem muito a ver com suas vidas. Ainda mais se a "clientela" da escola for oriunda de regiões pobres, senão miseráveis, e com profundas crises sociais. E tudo isso encarnado no aluno, no professor, na direção, nos funcionários. Enquanto estamos perto do computador quântico, escolas não tem Giz. Enquanto os alunos tem acesso fácil e barato a todo tipo de tecnologia digital, midiática, maravilhosa, temos que dar conta de um conteúdo que não lhes diz respeito. Enquanto os alunos tem acesso e convívio com todo tipo de violência e desestrutura familiar e social, temos todos que fazê-los sentar em filas, quietos e fazê-los aprender. Quando eu era aluno, o conteúdo da escola também não me dizia respeito. Mas ainda sim, havia duas coisas que hoje são raras. Primeiro, tínhamos a sede do Conhecer. Segundo, querendo ou não, tínhamos que estudar, caso contrário, reprovávamos, sem dó nem piedade. E esta responsabilidade já havia em nós. Com onze, doze anos, tínhamos já o peso da responsabilidade de não ser reprovado. Hoje... alunos de quarta série tem consciência de que não precisam estudar pra passar de ano. Puxa Vida, se nem na faculdade a gente estuda se não for obrigado pelo professor, é muita estupidez achar que uma criança vai estudar sem nenhum tipo de "incentivo".
O discurso moderno da violência que era a repetência é bonito. Mas tão estúpido quanto a repetência, da qual eu próprio tive duas experiências, é seu extremo contrário: a nossa famosa Progressão Continuada.
Isso daria um livro. mas basta dizer que é um projeto de governo do PSDB paulista, e reverendado por toda a população pelo voto, de fazer o Brasil ter índices de desenvolvimento equivalentes a "países desenvolvidos", como afirma a secretária de Educação.
Pois é.... Se Marx ficou famoso porque inverteu a lógica da dialética de Hegel. os tucanos entrarão para a história como os que inverteram a lógica do conceito de Infra/Super Estrutura de Marx. Quer dizer, primeiro nós temos que alcançar os índices de países desenvolvidos, depois... estes índices alterarão as reais condições de nossa sociedade.
Acontece que o preço dessa maquiagem sairá caro, em pouco tempo. Se vivemos já numa sociedade autoritário, profundamente marcada pela violência da desigualdade econômica, individualista, este projeto de Educação que a sociedade do Estado de São Paulo está implantando através do PSDB...... estamos educando para a Barbárie. E todos os professores, querendo ou não, somos coniventes com isso.
Claro, há alternativas, nem tudo está perdido. Mas minha realidade não é essa. É é dela que devo falar. De alunos do terceiro ano do ensino médio que nunca leram nenhum livro na vida. De alunos da quinta série, qua não sabem ler, escrever, e ainda assim, tiram boas notas em Língua Portuguesa. Ah, e lógico, indiferente das notas, passarão de ano. De professores que são agredidos constantemente pelos alunos, pois alguém vai ter que receber de volta toda esta violência da sociedade que eles recebem: dos pais, dos amigos, da mídia, da sociedade de consumo, da escola, do tráfico, do trânsito (pois ainda não sei como não morreu nenhum dos alunos no caminho de nossa escola). Aí acontece o seguinte: em escolas públicas o professor desiste de querer ensinar. Fica doente. E torna a relação com o aluno tão violenta quanto. Ou então ignora a situação, pois, "o que podemos fazer", assim que é, e assim será. Prova disso é que boa parte dos filhos dos professores e DIRETORES ( atestado de incompetência) estudam em escolas particulares. Que por sua vez, tem em sua clientela os filhos da classe média alta, ou da elite econômica - daquela que mandava vir os Navios, e que, por estarem pagando o salário do professor, acham que este tem que se sujeitar a todo tipo de humilhação que seus filhinhos, futura elite do Brasil, podem lhe submeter. E não são poucas... Resultado: Se o professor da escola pública, que sofre a violência, pode ao menos verbalizá-la, seja contra o aluno, seja à seus responsáveis, o professor da escola particular ainda tem que pedir desculpas quando reage a alguma humilhação ou violência.
Mas não acho que os professores somos somente vítimas disso. Também estamos entre os maiores responsáveis.
Bem, é um exagero comparar a crise na Educação Brasileira com o horror dos Navios Negreiros de Castro Alves. Mas acho que é hora de exagerarmos mesmo. Sermos radicais, irmos a raíz. A história do Brasil, de boa parte dele, de quase quatrocentos anos dele, se fez através desses navios. Somos esta história. A escola que eu vejo não é uma ponte para a evolução. A verdadeira escola que vejo, que trabalho, que estudo, é uma Instituição que exclui, discrimina, ignora. O que pode ser pior numa sociedade do que uma Instituição que deveria ser o locus, por excelência, da superação e da evolução de uma sociedade. O local ideal para e equalização das desigualdades economicas, sociais e históricas. Mas que, ao invés disso, se transforma numa das esferas mais violentas, e locus privilegiado de exclusão e manuntenção e reprodução de nosso país nascido sobre tanto "horror perante o céu"?
Quem sabe assim chamaremos a atenção para o absurdo da Educação básica nacional para o Absurdo das condições de trabalho do professor, que estamos todos ficando doentes. As vezes, quando saio de algumas aulas, fico imaginando se há alguma trabalho pior do que esse. Trabalho, diga-se bem, não luta pela sobrevivência, como milhares de brasileiros tem que fazer dia e noite para sobreviver e manter a dignidade para não ir para o crime (talvez até com razão...).
Senão, que tipo de trabalho, um único indivíduo, com diploma universitário, tem que entrar numa sala, com trinta, quarenta ou cinquenta outros individuos totalmente diferentes, mas se relacionando coletivamente. Ensinar a todos, ao mesmo tempo, o mesmo conteúdo. Que sabemos, não tem muito a ver com suas vidas. Ainda mais se a "clientela" da escola for oriunda de regiões pobres, senão miseráveis, e com profundas crises sociais. E tudo isso encarnado no aluno, no professor, na direção, nos funcionários. Enquanto estamos perto do computador quântico, escolas não tem Giz. Enquanto os alunos tem acesso fácil e barato a todo tipo de tecnologia digital, midiática, maravilhosa, temos que dar conta de um conteúdo que não lhes diz respeito. Enquanto os alunos tem acesso e convívio com todo tipo de violência e desestrutura familiar e social, temos todos que fazê-los sentar em filas, quietos e fazê-los aprender. Quando eu era aluno, o conteúdo da escola também não me dizia respeito. Mas ainda sim, havia duas coisas que hoje são raras. Primeiro, tínhamos a sede do Conhecer. Segundo, querendo ou não, tínhamos que estudar, caso contrário, reprovávamos, sem dó nem piedade. E esta responsabilidade já havia em nós. Com onze, doze anos, tínhamos já o peso da responsabilidade de não ser reprovado. Hoje... alunos de quarta série tem consciência de que não precisam estudar pra passar de ano. Puxa Vida, se nem na faculdade a gente estuda se não for obrigado pelo professor, é muita estupidez achar que uma criança vai estudar sem nenhum tipo de "incentivo".
O discurso moderno da violência que era a repetência é bonito. Mas tão estúpido quanto a repetência, da qual eu próprio tive duas experiências, é seu extremo contrário: a nossa famosa Progressão Continuada.
Isso daria um livro. mas basta dizer que é um projeto de governo do PSDB paulista, e reverendado por toda a população pelo voto, de fazer o Brasil ter índices de desenvolvimento equivalentes a "países desenvolvidos", como afirma a secretária de Educação.
Pois é.... Se Marx ficou famoso porque inverteu a lógica da dialética de Hegel. os tucanos entrarão para a história como os que inverteram a lógica do conceito de Infra/Super Estrutura de Marx. Quer dizer, primeiro nós temos que alcançar os índices de países desenvolvidos, depois... estes índices alterarão as reais condições de nossa sociedade.
Acontece que o preço dessa maquiagem sairá caro, em pouco tempo. Se vivemos já numa sociedade autoritário, profundamente marcada pela violência da desigualdade econômica, individualista, este projeto de Educação que a sociedade do Estado de São Paulo está implantando através do PSDB...... estamos educando para a Barbárie. E todos os professores, querendo ou não, somos coniventes com isso.
Claro, há alternativas, nem tudo está perdido. Mas minha realidade não é essa. É é dela que devo falar. De alunos do terceiro ano do ensino médio que nunca leram nenhum livro na vida. De alunos da quinta série, qua não sabem ler, escrever, e ainda assim, tiram boas notas em Língua Portuguesa. Ah, e lógico, indiferente das notas, passarão de ano. De professores que são agredidos constantemente pelos alunos, pois alguém vai ter que receber de volta toda esta violência da sociedade que eles recebem: dos pais, dos amigos, da mídia, da sociedade de consumo, da escola, do tráfico, do trânsito (pois ainda não sei como não morreu nenhum dos alunos no caminho de nossa escola). Aí acontece o seguinte: em escolas públicas o professor desiste de querer ensinar. Fica doente. E torna a relação com o aluno tão violenta quanto. Ou então ignora a situação, pois, "o que podemos fazer", assim que é, e assim será. Prova disso é que boa parte dos filhos dos professores e DIRETORES ( atestado de incompetência) estudam em escolas particulares. Que por sua vez, tem em sua clientela os filhos da classe média alta, ou da elite econômica - daquela que mandava vir os Navios, e que, por estarem pagando o salário do professor, acham que este tem que se sujeitar a todo tipo de humilhação que seus filhinhos, futura elite do Brasil, podem lhe submeter. E não são poucas... Resultado: Se o professor da escola pública, que sofre a violência, pode ao menos verbalizá-la, seja contra o aluno, seja à seus responsáveis, o professor da escola particular ainda tem que pedir desculpas quando reage a alguma humilhação ou violência.
Mas não acho que os professores somos somente vítimas disso. Também estamos entre os maiores responsáveis.
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