Este é tempo de partido, tempo de homens partidos. Em vão percorremos volumes, viajamos e nos colorimos. A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua. Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem (...) O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas promete ajudar a destruí-lo como uma pedreira, uma floresta, um verme. ( "Nosso Tempo" - Drummond)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

GREVE E GUERRA NA ESCOLA

(Escrevi este texto antes da greve de outono de 2008, nem me lembro.) Gostaria muito que a atuação da APEOESP provasse o contrário desta vez Inclusive continuei associado, e pagando o sindicato, mesmo sendo politicamente contrário a esta greve. Bom... neste mês vou lá pedir minha desfiliação...

Já virou Rotina. Todo o ano a secretaria de educação do estado de São Paulo cria alguma mudança no Sistema de Ensino e o Sindicato decreta greve. É sempre o "Mais do Mesmo". Mudança, Contestação e Acomodação pra tudo continuar como está.Vejam eu. Estou a quatro anos e meio dando aulas, e como a maioria dos professores, sofro com a minha profissão e acho difícil haver outras que provoquem tamanho sofrimento – quem, como eu, é professor da rede estadual sabe que não é exagero. Às vezes uma vontade de abrir a porta da sala de aula, e sair, andar, andar e andar, pra escapar do sofrimento e não descontar na mesma moeda o desrespeito, a violência, a provocação que a sociedade, o Estado, os responsáveis pela administração do sistema e os alunos, do infantil ao terceiro ano, nos fazem suportar em nosso ambiente de trabalho.E apesar disso tudo nós, professores, ainda acreditamos na Educação. Podemos estar acomodados. Tentar nos adaptar às mudanças das políticas públicas partidárias da Educação. E mesmo nesse palco de absurdo, contentar-nos com as migalhas quando vemos em pelo menos um aluno que estamos sendo peça fundamental no seu desenvolvimento psíquico, cognitivo, e emocional.Pois bem, enquanto classe docente, temos um Sindicato grande, estruturado, e representativo – a APEOESP. Que tem suas escolhas de atuação política. Escolhas estas referendadas pelo voto da maioria na escolha dos seus dirigentes. Por exemplo, a escolha de defender os interesses da classe pela via da negociação, e só depois a greve. Mas não greve para contestar toda uma Política Pública Partidária para a Educação do Estado de São Paulo. Mas uma greve para deixar as coisas como estão. Para não perder as migalhas. Podemos até dizer para não perder os privilégios, que temos se comparados com outras classes de trabalhadores regidas pela C.L.T. Privilégios estes que talvez amenizem as condições insalubres do trabalho docente, do não conseguir ensinar, das síndromes e doenças emocionais. Quantas vezes já ouvi de professores que estão perto da aposentadoria dizer-me: “Você está novo, não tem filhos, saia dessa, preste algum concurso público qualquer. Mas não fique aqui”. E mais escandaloso ainda: Professores que gastam boa parte do seu sofrido salário para pagar escolas particulares para os próprios filhos. (e sabem de uma coisa.... se tivesse um filho hoje, faria o mesmo para não deixá-lo numa escola estadual).“Grande Hipócrita, poderão me acusar”. Pois admito que não consigo trabalhar de forma satisfatória no emprego que escolhi. E em vez de participar do Sindicato só o critico, já que nestas condições sou contrário à greve, por entender que ela não vai a raiz do problema por entender que, gastando um pouco da minha Sociologia, apenas se adapta à ele, contribuindo com o Grande Sistema Capitalista, que, ao contrário do prevista pela Dialética Marxista, sempre consegue adaptar e superar suas crises (claro, socializando suas dívidas entre todos).Mas vejamos. Tanto a greve do ano de 2005, a de 2007 quanto a decretada agora, foi proposta, votada e aprovada em Assembléia de Professores realizada no Masp, na Avenida Paulista. Ainda que o número de participantes tenha sido tantos mil segundo a Apeoesp, quanto tantos mil segundo o Governo, ele não é representativo, pois somente aqueles professores que são historicamente engajados e previamente favoráveis à Greve tem a disposição de ir à São Paulo, fazer passeata, às vezes enfrentar a polícia. E são estes que votam na Assembléia e decretam greve. Pois quem é contrário a greve não vai à Assembléia.Ai a greve é decretada, deflagrada e difundida, apesar do desgaste provocado pelos 200Km de congestionamento no dia da Assembléia na Av. Paulista. Mas sua força é totalmente pulverizada ante a grande maioria que não participou nem com sim, nem com não da Assembléia para aprovar ou não a greve.Até que o governo jogue algumas migalhas, e então o sindicato se proclama como Vencedor, Vitorioso, Poderoso, e as coisas continuam como estão: Alunos de Ensino Fundamental que não sabem ler, e uma secretária da Educação, com Mestrado na Unicamp e Doutorado na Usp, dando em entrevista na Revista Veja a afirmação de que no seu mundo ideal, ela fecharia as faculdades de Educação da UNICAMP e da USP.Meu Deus Meu Deus, será que nos abandonastes à nossa própria estupidez? E a Educação virou palco do Absurdo?P.S.: A próxima Assembléia está marcada para esta próxima Sexta, 27 de junho. A questão agora é. O Sindicato continuará com a greve, mesmo com o aumento concedido, até que todas suas reivindicações sejam contempladas. http://www.apeoesp.org.br/. Ou, mais uma vez será o mais do mesmo?

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