Este é tempo de partido, tempo de homens partidos. Em vão percorremos volumes, viajamos e nos colorimos. A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua. Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem (...) O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas promete ajudar a destruí-lo como uma pedreira, uma floresta, um verme. ( "Nosso Tempo" - Drummond)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Os Filmes de Escola

O que não falta nas Vídeos Locadoras são filmes sobre Escola. Não raro os vemos exibição nas boas Salas de Cinema, menos raros ainda na programação da TV.
Postado por Marcelo às 22:35 0 comentários
Primeira Cena: Um Homem passando a mão na nuca, como que para aliviar o peso de algo que comprime todo o seu corpo. Ele se refaz, e caminha em direção à Classe de Aula.
Assim começa o filme: Entre os Muros da Escola (Dir, .....Franca, 200 ), filme que mostra o difícil cotidiano de um professor de língua francesa e sua classe de sétima série numa escola pública da periferia de Paris.
É inevitável para quem, professor como eu, ir ao Cinema para se ver na tela. "Ouçam a longa história de meus males, e curem sua dor com minha dor; que grandes mágoas podem curar mágoas." diz Camões. Mas não é Mágoa o peso na vida deste professor, como veremos nos 120 minutos seguintes do filme que tenta condensar um ano letivo desta Classe. É um misto de obstinação, desafio, dedicação, frustração. São estes sentimentos que emergem ao longo do filme, que emergem da relação professor-alunos desta Classe, que emerge também das salas de aula de nossas escolas.
A maior fonte dos problemas desta escola em particular é a dificuldade em lidar com a diversidade da "clientela" - alunos filhos de migrantes de ex-colônias francesas, alguns filhos de orientais que vivem ilegalmente na França. Cada um de uma parte do continente, franceses de ex-colonias que são considerados menos franceses que os da Metrópole. Mas todos com algo em comum: a dificuldade em (ter) que se integrar à Metrópole. Ao fato de todos ali serem de alguma maneira os deserdados da terra, aqueles que sofrem com as "Consequências Humanas da Globalização", do Colonialismo do século XIX e XX.
A Escola se torna, assim, o Locus, o ponto de encontro desse embrólio. Uma pergunta percorre todo o filme: Qual o sentido da escola? Pra que ela serve? O que espera as sociedades modernas, o país, os pais, os governos dela? A penúltima sequencia do filme dá uma resposta à isso.
E é nisso que a escola do filme e as nossas escolas daqui (pelo menos as da Rede Estadual de São Paulo) se encontram - a angústia de todos os que nela estão inseridos de dar-lhe um Sentido e uma Finalidade neste Século XXI que ainda trás os problemas e conflitos de séculos anteriores em sua estrutura ao mesmo tempo que é o século sonhado pela ficção científica.
A realidade mostrada pelo filme é extremamente angustiante. Porém, mais ainda é pensar que nossa realidade tem as mesmas questões, guardando-se as especificidades históricas, em dimensões dezenas de vezes maior e mais sérias.
Pra começar: o filme, assim como o livro, tratam do ano letivo de apenas uma classe em particular. Sem submestimar a complexidade desta classe - fruto dos anos de colonialismo francês, mas se for pra comparar...vamos lá: Lá não há nenhum caso de envolvimento com o tráfico de drogas, a classe não é superlotada (tem cerca de vinte alunos) e o stress que os professores sofrem diz respeito aos conflitos somente desta sala, enquanto por aqui a gente tem até quinze. Como disse anteriormente, comparações podem ser feitas, sobretudo porque filme e livro são obras verossímeis, mas tem que ser comparados numa dimensão muito diferente.

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