Este é tempo de partido, tempo de homens partidos. Em vão percorremos volumes, viajamos e nos colorimos. A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua. Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem (...) O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas promete ajudar a destruí-lo como uma pedreira, uma floresta, um verme. ( "Nosso Tempo" - Drummond)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Intricada ligação entre a Crise Mundial dos Alimentos e de Combustíveis e a Ração do Meu Cachorro


Peraí, deixa eu ver se eu entendi!
Até a alguns meses atrás estava tudo lindo e maravilhoso na economia mundial, e graças a isso a nossa também ia bem. Inflação baixa, o Banco Central diminuindo gradativamente os juros de forma responsável, o consumo e o crédito em alta, e os preços dos alimentos quietinhos em seu canto.
Agora graças à demanda crescente de combustível, e as reservas de petróleo nas mãos de uma meia dúzia de Sheiks e outra meia dúzia de governos malucos, que nos faz refém deles – o mundo descobriu a alternativa: bio-combustíveis. E o Brasil na Vanguarda, quem diria.
Aí, os carros movidos à álcool de cana-de-açúcar, deixaram de ser uma moda Retrô, e voltaram à moda com tudo. E dá-lhe ufanismo do governo, da imprensa, dos empresários, dos Verdes. O Brasil, que já é o maior produtor de soja e carne bovina do mundo, também será, finalmente, o país do futuro. Quando o petróleo acabar, ou mesmo antes, seremos o novo Oriente Médio. Mas nossa fonte de energia para o mundo será infinita. E finalmente o Brasil deixaria de vez o seu estigma de agricultura de monocultura (lembram-se, pau-Brasil, cana-de-açúcar, metais preciosos, café....) para ser, de uma só vez o maior produtor agrícola do que o mundo realmente precisa: soja, carne e cana.
E mais, graças a estes três, nossa balança comercial está atingindo a casa dos bilhões ao ano. Ainda que não conheça ninguém que coma tanto soja, como todos comemos arroz e feijão.
Mas tem umas coisinhas que não consigo entender.
Se nós, como Nação, estamos fazendo a escolha de destinar boa parte de nossos recursos (terra, água, suprimentos) para os três, que – mês a mês batem recorde de lucro, então, cadê a minha parte? Eu não recebi um centavinho sequer. Veja bem, não estou falando de por fim à propriedade privada e à livre iniciativa. Mas na dinâmica da Economia Nacional, de alguma maneira eu deveria também participar da divisão dessa riqueza, já que participo de seus custos. Acho que é a mesma lógica, o mesmo maldito jeitinho brasileiro, do Horário de Verão, que a ciclo que finda a imprensa divulga que foi economizado tantos Bilhões. Mas pra onde vai este dinheiro. Alguém aí sabe? Parece aquela história do Chester de Natal. Todo mundo come, mas não conheço ninguém que já viu um vivo.
E essa agora, duvido que alguém me explique. Juro que uso uma camisa do Corinthias por uma semana se alguém me explicar, tim tim por tim tim. (Pois, como todo brasileiro, também faço parte da maior torcida do Brasil – só que torço contra, pois Corithias não tem meio termo, ou simpatia.
A ONU está alertando para um colapso de abastecimento de alimentos no mundo. Lógico, para os países, povos, nações e regiões já historicamente sugadas pelo mostro do Capitalismo. Imagina só se o mundo inteiro consumisse o que os Norte-Americanos consomem. E a culpa, agora, vai ser nossa, por estarmos (fazer o que, votei no Lula, mas não pra isso) difundindo pelo mundo o combustível feito da Cana. Para não ficar pra trás, que não são bobos, os EUA, estão diminuindo sua área plantada pra cultivar milho para fazer combustível. E resultado: por eu ir à casa de ração comprar comida pro meu cachorro, que achei na rua, é bom que se diga, tenho que gastar combustível. Por este pecado, os EUA, o calcanhar de Aquiles da economia universal, tem que deixar de plantar arroz e feijão (ou hamburguer pro McDonalds, sei lá qual é o prato principal deles) pra plantar milho pra fazer combustível. Não entendo nada da cultura do Milho, mas parece que é bem cara. Muitos insumos, fertilizantes,... aí aumenta tudo: da ração pra inchar em tempo recorde o frango da granja, à ração do meu cachorro, que , tadinho, tem que comer bem, né. Ah é, e no meio disso tudo, o nosso pão nosso de cada dia já está custando quase um real a unidade, o arroz já passou dos 10 reais o saco de 5 quilos, a carne de boi, pasmem, está DEZ reais o quilo. Pô, não tem um negócio que diz que quanto maior a produção é menor o preço. Tinha que ser quase de graça.
“Ah, deixa de reclamar, arruma um pedacinho de terra e vai plantar comida”, você pode falar. Assim como todos já falamos desses mendigos, desempregados, maltrapilhos, que ficam perambulando pedindo comida por aí. Pois é, lembra das Capitanias Hereditárias... o Brasil cresceu muito depois daquilo, mas os donos continuam mais ou menos os mesmo. Ai, se eu quisesse arrumar um pedacinho de terra pra plantar meu arroz com feijão e criar umas galinhas, de modo saudável, eu ia ter que entrar no MST.
Mas é melhor não, né. Melhor é eu ficar só falando em rodinhas de esquina, que “onde já se viu”, “tá tudo muito caro”, “você viu o preço do tomate, tá pela hora da morte”.
E eu que coma menos carne durante a semana pra poder garantir a ração pro meu cachorro e garantir o dinheiro do busão pra ir trabalhar. Belo Capitalismo. Os custos são divididos, já os lucros...(E nem a Seleção de Futebol presta mais pra nos trazer uma pouco de felicidade e ilusão).

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